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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Lá im cima fica o céu

Lá im cima fica o céu (Teimosia)

Lá im cima fica o céu
Cá rua drumo ao léu
Jiló marga feito fel
Abeinha faz é mel

Camaradinha...

Eu fui nu mato caçá
Cum meu cachorro perdiguêro
Ele acuô num buraco
Saiu tatu verdadêro
Panhei tatu, dei tatu
Mandei pu Ri de Janêro
Panhei tatu, dei tatu
Botei tatu nu fumêro
Panhei tatu, dei tatu
Vendi tatu a dinhêro
E quem manda no carro ?
É o carrêro !
E quem manda no carro ?
É o carrêro !

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Mininu, qui vendi aí ?

Mininu, qui vendi aí ? (Conforme gravações dos Mestres Traíra e Cobrinha Verde)

Mininu, qui vendi aí ?
É arroz di Maranhão
Meu sinhô mandô vendê
Na cova de Salamão
Sô discipo qui aprendo
Meu mesti mi deu lição
Quano batêro na porta
Lá di dent'arrespondeu
Era força di Sansão
I oração de São Mateus
Quano manheço zangado
Quem podi cumig'é Deus

Camaradinho...

Lá im casa tem varanda
Varanda pá vadiá
Ê, varanda boa !
Varanda pá vadiá
Varanda boa
Varanda pá vadiá

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sinhô dono da casa

Sinhô dono da casa (Adaptado "Desafio do Auto da Catingueira", de Elomar Figueira de Mello)

Sinhô dono da casa
Cantadô pedi licença
Prá tocá viola mansa
Aqui na sua presença
Vim lá das banda du norti
Cum permissão da sentença
Cumprino mi'a sina forti
Já pru muitos cunhicida
Buscano a ilusão da vida
Ô u martelo da morte
I das duas a prifirida
Qui mi mandá minha sorte

Camaradinha...

Có-có-có
Cantiga de galu
Có-có-có
Di galu carijó
Có-có-có
A galinha correu
Có-có-có
Nu pulêro é mió
Eu i'ali
Mai agora num vou mais
Nu camin eu incontrei
Duas cobras de corais

Camaradinho

Ai, a cobra mi mordi
Sinhô São Bento
Ai, a cobra mi mordi
Sinhô São Bento
Ai, a cobra danada
Sinhô São Bento
Na ladêra du tabuão
eu caí, iscurreguei
quano fui pá levantá
pocurei a cadeira, num achei

Camaradinho...

A cancela bateu, eu vou embora
Vou embora, vou embora
A cancela bateu, eu vou embora
Vou nesse mundo sem fim
A cancela bateu, eu vou embora
Vou embora, vou embora
Tenhu corpu fechadu
Mi pegá né moli não
Não usu rôpa dos ôto
Não impresto meu drobão
Sapato com presa dentu
No meu pé num ponho não
Fora di casa só durmu
C'um ôio fechado ôto não
Não comu cumid'alhea
Nem si fô só águ'i pão
Em dia de roda num bebo
Em mulé não ponho a mão

Camaradinho...

Me dá meus tostões
Entre os dedos da mão
Em jogo que tem tostões
Tem dois tostões valentão !
(Mestre Ezequiel)

Toda a Bahia chorou
No dia que a Capoeira de Angola
Perdeu seu protetor
Mestre Pastinha foi embora
Oxalá quem o levou
Lá prás bandas de Aruanda
Mas ninguém se conformou
Chorou general e menino
Chorou mocinha e doutor
Preta velha feiticeira
Ogã e babalaô
Berimbau tocou sereno
Um toque triste de morte
A capoeira foi jogada
Ao som da triste canção
E da boca do mandingueiro
Do fundo do coração
Não houve na Bahia
Quem não cantasse esse refrão
Vai lá, menino !
Mostre o que o mestre ensinou
Mostre que arrancaram a planta
Mas a semente brotou
E se for bem cultivada
Dará bom fruto e bela flor

Camaradinha...

Ai, ai, aidê
Joga bonito, eu quero aprender
Ai, ai, aidê
Joga bonito, eu quero aprender
Mi'a mãi tinha três fi
Eu er'o mais assusegado
Saia boca da noite
Chegava de madrugada
Na roda da capoeira
Nunca dei meu gorp'errado

Camaradinho....

Vô m'imbora, vô m'imbora
Mata tenho qui passá
Vô m'imbora, vô m'imbora
S'iaiá quisé mi vê
Vô m'imbora, vô m'imbora
Ponha seu barco nu má
Lá atiraram na cruz
Eu di mim num sei quem foi
Si acaso fui eu mesmo
Peço à cruz que mi perdôi
Bizôro caiu no chão
I fez qui tava deitado
A puliça foi entrando
El'atirô nu soldado
Vá brigá cum caranguejo
Qu'é bicho qui num tem sangue
Puliça si tu qué briga
Vamo pá dentu du mangue

Camaradinho...

Balanço du má, navio negrêro
Antigo reino du Congo deu cultura pu Brazi
Balanço du má, navio negrêro
Antigo reino du Congo deu cultura pu Brazi
Quano vê cobra'ssanhada
Num ponha pé na rudia
Qui cobra'ssanhada mordi
S'eu fossi cobra murdia
O moço casa c'a moça
Quano tem amô pur'ela
U qui põe moç'a perdê
É casa di muita janela

Camaradinho...

Eu vi jararaca no cajuêro
Sinhô mandô matá
Eu vi jararaca no cajuêro
Sinhô mandô matá
Eu vi jararaca no cajuêro
Sinhô mandô matá
Mininu quem foi teu meste ?
Quem t'insinô a brigá ?
U meu meste foi Bizôro
Aprendeu cum mangangá
Mininu quem foi teu meste ?
Quem ti deu tanta guarida ?
Quem t'insinô a maldade
di dançá dentu da briga ?

Camaradinho...

Tô durmino, tô sonhano
Tão falando mal de mim
Tô durmino, tô sonhano
Tão falano mal qu'eu vi
Dedu di munhec'é dedu
Dedu di munhec'é mãu
U macacu na levada
Doi liãu passô-l'a mãu
Mariposa num mi prenda
Dentu du seu coraçãu

Camaradinho...

Foi Deu qui mi deu, é Deu qui mi dá
Qui deu capuêra pá nói vadiá
Foi Deu qui mi deu, é Deu qui mi dá
Qui deu capuêra pá nói vadiá
Nego nagô quano morre
Vai pá cova di bangüê
Us parente vai dizeno
Urubu há di cumê
Aqui babá, ai canjerê
Nego nagô tem catinga de sariguê

Camaradinho

O home é valente
Eu já sei sinhô
O home é ligêro
Eu já sei sinhô
E li joga no chão
Eu já sei sinhô

Coro di fazê sela

Coro di fazê sela (Teimosia)

Coro di fazê sela
Coro di fazê tambô
Pau di faze gamela
Gamelêra sim sinhô
Chegá na roda sorrino
É cunvite a aligria
Pá brincá feitu minino
Seja noiti, seja dia

Camaradinho...

Ai, ai, ai dotô
Capoeira di valô
Ai, ai, ai dotô
Brincadêra sim sinhô
Não se pega água com peneira, e nem vento com a mão. Capoeira é água de correnteza, que vai molejando entre as pedras e chega onde quer - se infiltrando onde há caminho e quebrando onde não há. Não tem forma, nos forma. É vento que refresca o couro e vendaval que derruba gameleira. Capoeira é de esquentar o chão e o coração, é febre de dar tremedeira, é alegria de pregar sorriso no rosto de quem vê. É a conta do ódio do oprimido, do alívio do liberto, da perseverança do fujão. Manha, mandinga de escravo, magia, mistério. Poesia de quem quer, história de quem sabe e viu e ouviu. Ancestralidade, respeito pelo que foi e atenção no que vai ser - para não errar os mesmos erros. Capoeira é música que não cabe na garganta, e que quer barulhar no mundo. Tambor tocado com delicadeza e força, arco retesado e soltando flechas de som. Sino de ferro feito em forja, couro de bode afinado com fogo. É aço que canta, chocalho que chia, cabaça que geme, coração que bate em ritmo negro. Capoeira é o sal, o sol e o céu. O boi, o louro, o mel. O café, a cana, o ouro. O suor, o sangue, as lágrimas. O calo, a ferida, a mágoa. A ofensa, a vingança, o perdão. A luta, a fuga, a emboscada. O pé, a mão, a cabeça. Não é preciso definir capoeira - a capoeira é.