Miquilina morreu ontem
Ontem mesmo se enterrou
Miquilina morreu ontem
Teve gente que chorou
Prá cova de Miquilina
Mando um buquê de flor
Era hora grande
Quando eu cheguei na Bahia
Só prá ver a preta Rosa
Filha de Rosa Maria
Todo mundo viu a Rosa
Só eu mesmo é que não via
Vizinho é meu parente
Viveu bem sem trabalhar
Meu pai trabalhou tanto
Nunca pôde enricar
Não tinha um dia da semana
Que deixasse de rezar
(Mestre Russo)
sábado, 31 de março de 2012
sábado, 17 de março de 2012
Capoeira subversiva
A capoeira sempre foi entendida como subversão. De escravos contra seus senhores; dos cidadãos de segunda classe contra o poder instituído; do conhecimento oral contra o academicismo; do corpo contra a lei da gravidade. Gente se juntou à capoeira e subverteu a lei do mais forte, subverteu a ordem social pessoal (e "subiu" na vida como pau-mandado de figurão), subverteu a lei vigente e ajudou a trazer a capoeira para o lado "certo" da cerca.
Mas e hoje, o que a capoeira subverte ? Passemos um pente-fino em nossas próprias cabeças, e vejamos quantos piolhos não caem... Machismo, racismo, sexismo, homofobia, xenofobia, preconceito religioso, preconceito contra idosos, gordos, carecas, deficientes de todo tipo. Orgulho. Prepotência. Ego inflado. Aquela certeza de ser o último dobrão do mundo, para bater berimbau.
Então, capoeirista, o que a capoeira subverteu em você ? E o que você subverteu hoje ?
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sexta-feira, 16 de março de 2012
Disconfie
Disconfie (Teimosia)
Disconfie di quem qué
vir li apontá o dedo
a raiva escond'a'nveja
a'nveja escond'u medo
Disconfie di quem qué
li dizê c'o dele é certo
orgulh'escond'incerteza
seja longe, seja perto
Num queira vim'i dizê
qui o meu jeit'é furado
qui eu só sei andá torto
qui meu cert'é seu errado
Disconfie di quem qué
li impô u qui vesti
li dizê u qui pensá
l'insiná u qui senti
Di gent'assim, amigo meu
U mundo vai s'intupi
São os capitão-du-mato
disfarçado di Zumbi
Camaradinha...
Pisa no chão, pisa maneiro
Si num pode com furmiga, num assanha furmigueiro
Pisa no chão, pisa maneiro
Si num pode com mandinga, num assanha mandingueiro
sábado, 10 de março de 2012
a música precisa existir por si
não por ser fundo, não por ser trilha
precisa fugir pelas amídalas,
sair da goela como sai um grande arroto
que ponha para fora barulhos que há dentro
remexa entranhas e esquente buchos
que faça relar as vontades e acanhe saudades matadeiras
a música precisa correr solta como dedos que correm cordas
e línguas que correm furos, baquetas que correm couros e mãos que correm teclas
sair da úvula, badalos que percutem sinos
que seja poema em si
verdades de quem a escreve ou canta, ao menos mentiras de quem a escuta ou repete
a música precisa sair do peito
como se nele nunca houvesse cabido
água de morro abaixo, formiga de correição
rolha de sidra boa,
ligeira, lépida, célere e fagueira - em qualquer ordem que se deseje
'que música é para ser solta
uma capoeira jogada para a roda
dança mais torta e balanceada do que propunha o bailarino
'que dança é música vazando pela sola do pé
caçando terra que lhe caiba feito peito coube
e treitando jeito de arapucar um passante
que lhe plante a planta e dê chance de subir como xistosa
escalando a canela e deixando rupeio
para ser quentura no joelho e tremura nas coxas
sacolejo de quadris e umbigada quebrante.
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