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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Humanidade me cansou, 
Pelos seus julgamentos
Aquele que está fora, quer saber, 
O que rola dentro
E lá vai e voa o nome, 
o "talvez" e "ouvi falar"
E a cacatua veio jurando,
que ouviu gato ladrar
Não me diga o que não vale,
ou aumenta minha vida,
tem fofoca e aviso,
interesse e intriga
O que eu dizia e aonde,
você vem se lembrando,
por favor faz o esforço,
de se perguntar: por que e quando
O poder de uma estória,
rica de interpretar...
O seu julgamento de mim,
Eu não tento mais julgar

Camará

(Instrutor Rouxinol - A.L.D.E.I.A.)

quinta-feira, 21 de junho de 2012


O homem foi pra guerra
Mas a paz é uma conquista
A lua ilumina a noite
O sol clareia o dia

(Mestre Dinho Nascimento)

"A capoeira me fez doutor"


MESTRE JOÃO PEQUENO

Publicada originalmente na revista Praticando Capoeira, #1

Como se sente hoje, aos 82 anos, símbolo da Capoeira Angola no Brasil e no mundo?
Eu me sinto muito bem. Continuo praticando minha capoeira, levando adiante o trabalho de Mestre Pastinha... não tenho doença, estou muito bem.

Como tem sido nesses anos todos dar continuidade ao trabalho de Mestre Pastinha?
Tem sido muito bom e eu sempre vou continuar com esse trabalho.

Mestre Pastinha fez algum pedido ou deixou alguma recomendação ao senhor antes de falecer?
Sim, ele me disse: "João, tome conta disso que eu vou morrer, mas só no corpo; e enquanto a capoeira existir meu nome vai estar vivo"

E para os outros alunos ele deixou alguma recomendação? 
Não, para os outros não que eu saiba.

Quando Mestre Pastinha começou a confiar-lhe a Academia?
Logo que cheguei na Academia de Mestre Pastinha ele já me "entregou" a Academia. Eu começava a ensinar os alunos novos que iam chegando... Eu ensinei muita gente... João Grande eu ensinei...

Como era a organização na Academia de Mestre Pastinha?
A mesma que eu uso hoje na minha Academia. Eu sigo tudo igual ao Mestre Pastinha.

O senhor e o Mestre João Grande eram os alunos "prediletos" de Mestre Pastinha. Isso causava algum ciúme nos outros alunos?
Mestre Pastinha dizia: "Na minha academia tem dois Joãos, um joga pelo ar, outro pelo chão, um é cobra mansa, o outro gavião"; ele se referia a mim e a João Grande.

Por que grandes mestres da capoeira, como Mestre Pastinha, morrem na miséria?
Eu não sei... Capoeira tem dessas coisas... Muitos dizem que a capoeira é maldita. Eu luto e trabalho para mostrar que a capoeira não é maldita. Eu não tinha estudo e graças à capoeira hoje eu sou doutor. A capoeira me fez doutor.

Como os alunos reagiram à doença do Mestre Pastinha? 
Todo mundo ficou triste mas não tinha nada para fazer.

Quais as dificuldades que tem enfrentado ultimamente?
Eu não sinto dificuldade nenhuma. Não tenho dificuldade... Eu estou bem... viajo, tenho minha Academia, participo de vários eventos...

O senhor acha que a Capoeira Angola mudou da década de 40 para hoje?
Mudou, e mudou para melhor. O jogo, principalmente, mudou para melhor. Hoje o pessoal joga bem embaixo...

O que Mestre Pastinha falava sobre a defesa da Capoeira Angola?
Mestre Pastinha falava que se você visse que um golpe ia acertar o companheiro era para freiar, porque a Capoeira Angola não é para acertar. Agora, ele sempre falou que a Capoeira Angola é luta, e é luta mesmo na hora em que você precisa se defender.

João Grande saiu do Brasil e obteve reconhecimento mundial com a capoeira. 0 senhor acha que se estivesse no exterior estaria em melhor situação?
João Grande está lá fora, ganhando dinheiro... Ele disse para mim. "Se eu estivesse no Brasil não teria dinheiro nem reconhecimento que eu tenho hoje". Eu quando viajo dou meus cursos mas não estipulo cachê; João Grande estipula cachê em dólar, viaja com aluno e ainda com dois seguranças. (risos)

O senhor gostaria de dizer alguma coisa aos capoeiristas?
Que os capoeiristas não desviem a capoeira para o lado mau, porque a capoeira não é má; mau é o capoeirista que desvia ela pai a o mal. Que os capoeiristas façam capoeira mas façam capoeira com amor.

O senhor tem algum sonho?
Eu espero vida eterna, saúde, paz, tranqüilidade, entendimento, sabedoria... paia mim e para minha família. E que Deus dê resistência para eu continuar toda a vida com a capoeira.

"Tem muita coisa que sei e nunca vi ninguém fazer"


MESTRE ARTHUR EMÍDIO

Entrevista de Geraldo Bezerra de Menezes, originalmente publicada no Jornal do Brasil, em 20 de janeiro de 1987.

Mestre Artur Emídio de Oliveira, nascido em Itabuna, em 31 de março de 1930, é o primeiro e único cordel branco da capoeira (graduação máxima). O seu mestre foi Paizinho, que teve como mestre Nene, um africano, ex-escravo no Recife.

Desde que mestre Emídio se entende, a capoeira é sua vida. O pai, Emídio, e os irmãos também jogavam capoeira nas ruas de Itabuna. Aos 15 anos já era professor.

- No meu tempo, gingou na rua era preso. Corri muito da polícia. Eles vinham a cavalo... Várias vezes fomos em grupo à delegada para soltar o mestre Paizinho.

Depois de andar pelo Brasil, desafiando e lutando com quem aparecesse, mestre Arthur Emídio chegou ao Rio em 1953. Foi trabalhar no Cais do Porto, onde conheceu Valdemar Santana. Em Bonsucesso, abriu uma academia e fez escola. Hoje. independente do estão que se pratique, todos consideram Arthur Emidio um nome intocável na capoeira. O seu estilo é próprio.

- Minha ginga e meu jogo são diferentes. De meus alunos, destaco Mestre Celso. Rei da angola, para mim, são os mestres Malhado e Moraes. Mas esse negócio de angola, angolinha, capoeira tiririca (em Minas Gerais), regional senzala, não me atrai. A regional, por exemplo, é num compasso muito marcado. Capoeira é agilidade. Meu jogo é elástico.

Arthur Emidio lamenta que nada se faça pela capoeira. Já participou de mais de 50 simpósios - "tudo conversa" - e nunca foi consultado a respeito de nada - "tem muita coisa que sei e nunca vi ninguém fazer".

Sobre o mestre Arthur Emidio, André Lacé, também mestre, faz um comentário consagrador:

- Sempre que joguei com o Mestre Arthur senti a seguinte sensação: a distância que vai de mim para de é bastante maior do que a distância que vai dele para mim Ou seja, o domínio dele na luta é absoluto.

Até boje o único cordel branco na capoeira, Arthur Emidio de Oliveira tem orgulho em dizer que já iez exibição para os presdentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck. Após a apresentação para Getúlio, na Bahia, ainda garoto, na solenidade que se seguiu, não se esquece das primeiras palavraa do discurso de Getúlio:

- Realmente, a capoeira é o esporte do Brasil