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quinta-feira, 21 de junho de 2012

"Tem muita coisa que sei e nunca vi ninguém fazer"


MESTRE ARTHUR EMÍDIO

Entrevista de Geraldo Bezerra de Menezes, originalmente publicada no Jornal do Brasil, em 20 de janeiro de 1987.

Mestre Artur Emídio de Oliveira, nascido em Itabuna, em 31 de março de 1930, é o primeiro e único cordel branco da capoeira (graduação máxima). O seu mestre foi Paizinho, que teve como mestre Nene, um africano, ex-escravo no Recife.

Desde que mestre Emídio se entende, a capoeira é sua vida. O pai, Emídio, e os irmãos também jogavam capoeira nas ruas de Itabuna. Aos 15 anos já era professor.

- No meu tempo, gingou na rua era preso. Corri muito da polícia. Eles vinham a cavalo... Várias vezes fomos em grupo à delegada para soltar o mestre Paizinho.

Depois de andar pelo Brasil, desafiando e lutando com quem aparecesse, mestre Arthur Emídio chegou ao Rio em 1953. Foi trabalhar no Cais do Porto, onde conheceu Valdemar Santana. Em Bonsucesso, abriu uma academia e fez escola. Hoje. independente do estão que se pratique, todos consideram Arthur Emidio um nome intocável na capoeira. O seu estilo é próprio.

- Minha ginga e meu jogo são diferentes. De meus alunos, destaco Mestre Celso. Rei da angola, para mim, são os mestres Malhado e Moraes. Mas esse negócio de angola, angolinha, capoeira tiririca (em Minas Gerais), regional senzala, não me atrai. A regional, por exemplo, é num compasso muito marcado. Capoeira é agilidade. Meu jogo é elástico.

Arthur Emidio lamenta que nada se faça pela capoeira. Já participou de mais de 50 simpósios - "tudo conversa" - e nunca foi consultado a respeito de nada - "tem muita coisa que sei e nunca vi ninguém fazer".

Sobre o mestre Arthur Emidio, André Lacé, também mestre, faz um comentário consagrador:

- Sempre que joguei com o Mestre Arthur senti a seguinte sensação: a distância que vai de mim para de é bastante maior do que a distância que vai dele para mim Ou seja, o domínio dele na luta é absoluto.

Até boje o único cordel branco na capoeira, Arthur Emidio de Oliveira tem orgulho em dizer que já iez exibição para os presdentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck. Após a apresentação para Getúlio, na Bahia, ainda garoto, na solenidade que se seguiu, não se esquece das primeiras palavraa do discurso de Getúlio:

- Realmente, a capoeira é o esporte do Brasil

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