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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Moleques do Morro do Boréu
Santa Marta, Pavão, cais da Bahia
Nunca que frequentaram academia
Já nasceram jogando capoeira
Aprenderam a gingar na ladeira
Atravessando a rua, a esquiva
E fugindo da vida, a negativa
O martelo cruzado e a rasteira
O macaco por pura brincadeira
E o aú nem se fala, que é bobagem
Já cresceram vivendo a malandragem
Se não fossem malandros, nem cresciam
E o toque do berimbau que ouviam
Era dentro do peito que tocava
Era a voz de Zumbi que então gritava
"Corre livre, moleque
Não se entregue."
Que filho de Zumbi já nasce livre
Ele luta com força e valentia
Até que se possa dizer, um dia
Somos livres, irmãos de toda raça
Berimbau vai tocar em plena praça
E o povo vai jogar a noite inteira
Meu povo!
O povo vai brincar a noite inteira
Meu povo!
O povo vai lutar a noite inteira
Meu povo!
Na beira do mar e na ladeira
Meu povo!
No meio da praça e na ribeira

(Mestre Toni Vargas)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pá brigá cum capuêra

Pá brigá cum capuêra (Teimosia)

Pá muntá nu burro brabo
Tem qui cunfiá na'spora
Tem qui tê jôgu di perna
Ô burro ti bota fora

Pá pegá cob'assanhada
Tem qui cunfiá na mão
Tem qui tê s'a ligereza
Coba num perdôa não

Pá brigá cum capuêra
Tem qui tê seu patuá
Dá um nó, iscond'a ponta
Qu'é p'ele num disatá

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"Deus tirou os dentes, mas engrossou as gengivas". Gerson Francisco da Anunciação

Palavras de Rafael Alves França

"Meu apelido, Cobrinha Verde, quem botou foi o próprio Besouro, meu mestre. Porque eu era muito veloz. Eu era tão ligeiro que um dia ele me botou no quadro prá jogar facas em mim, prá ver se eu sabia me defender. Eu peguei as facas 2 vezes". 

"Quando Besouro ensinava aos seus discípulos e via que o aluno estava preparado, ele fazia esta experiência: se fechava numa sala com o discípulo, metia a mão num punhal e dava outro ao discípulo e dizia: vamos trocar facas com uma toalha amarrada na cintura dos dois, prá um não fugir do outro." 

"Enfrentei prá não morrer. Se corresse eles me matavam. Então eu enfrentei para não morrer (...) Meti a mão no facão, e eles com aquelas pistolas 320. Aí eles lutaram (...) e não puderam comigo. (...) Deram 18 tiros. E eu, pulo de um lado, pulo do outro. Quando olhei só tinha dois na minha frente. Os outros dois estavam estirados no chão. Aí, esses dois correram e eu corri também. Acabou a briga". 

"Aqui em Salvador, não posso fazer as contas dos alunos que já tive. Mesmo porque são tantos que eu não me lembro. Comecei a ensinar primeiro que Bimba, Pastinha... Eu saía da Fazenda Garcia prá dar instrução a Bimba e a judar ele a dar instruções aos seus alunos, no Bogum, Engenho Velho da Federação." 

"Depois tinha uns amigos mestres. Mestres não, eram capoeiristas, porque naquela época não tinha academia. (...) Marola, Augusto Chibateiro, Barbosa, Aberrê, João Macaco, Paulo Bolão, Antônio Corró, Otaviano, Roque Barroso, Barriga Pequena, Menino Gordo, Antônio Catité, Waldemar Geraldino. Eles iam jogar comigo com medo, mas eu não batia em ninguém." 

"Não era só com a capoeira que eu me livrava dos meus inimigos. O bom capoeirista é mágico. Ele tem o poder de aprender boas orações e usar um bom breve, porque a capoeira não livra a gente de bala. Então, eu usava um bom breve e boas orações. Hoje não uso, mas eu não estou esquecido. Está tudo aqui na cuca. As orações eram para me livrar dos malignos e de balas". 

"O breve que eu usava tinha oração de Santa Inês, de Santo André, de Sete Capelas, tinha Sete folhas. Depois que eu usava, botava ele em cima da mesa num prato virgem. Ele ficava pulando, porque era vivo. Mas houve algum problema, pois ele fugiu (...) de mim. Foi algum erro que cometi e ele foi embora e me deixou. Quando entrei no bando de Horácio de Matos com 17 anos eu já tinha esse breve". 

"Quem me deu esse breve foi um africano (...). Ele se chamava Tio Pascoal. (...) Um dia ele me disse: é, tu és um menino destemido, vou te dar um negócio. Só Deus é quem pode te fazer uma traição. Deus não faz traição, meu filho, com ninguém. Agora o que eu vou te dar, tu tens que usar como te ensinarei. Eu respondi: sim senhor". 

"Fui um homem que tinha família mas não dormia com a patroa. Ela dormia lá e eu dormia cá para não quebrar as minhas forças. Eu não passava debaixo de cerca de arame, não passava debaixo de pé de dendê, não passava debaixo de cooité. Se fosse passar por aqui e aqui estivesse uma corda de roupas eu ão passava por debaixo nem as quartas-feiras nem aos sábados". 

"Em épocas passadas eu gostava de andar na turma dos veteranos daqui de Salvador. Eu não estou desfazendo porque nunca desfiz. Mas eu nunca ouvi falar em Pastinha. Nunca, só depois da morte de Aberrê. Antes de Aberrê morrer, Pastinha andava acompanhando Aberrê. Depois foi que Pastinha andou tomando conta de academia e dizia que foi mestre de Aberrê. Aberrê nunca me disse quem foi o mestre dele." 

"A capoeira não conta golpes, porque a capoeira tem muitos golpes mortais. Eu digo que na capoeira angola tem golpes mortais, porque se você pegar o adversário no golpe mortal, quando soltar ele não levanta mais". 

"A capoeira angola é uma luta. A primeira do mundo. É original, por isso ela não tem disputa. Não pode. Dois angoleiros que entendem da luta não podem disputar porque na luta mesmo um quer vencer o outro e um pode aplicar um golpe mortal". 

"Os alimentos de hoje em dia são todos podres. Se é o peixe, leva 2 meses no gelo Até a própria farinha já perdeu a força. Na minha época, comia farinha tirada do forno (..) Sabe como fui criado ? Meu leite era polpa de jirimum com mel. Viajei pelo sertão e levei 20 anos comendo tudo vivo. Era abóbora com leite, batata, era um boi matado na hora, carne viva tremendo prá botar no fogo" 

"(...) eu me defendi de muitas coisas, mas não foi só com a capoeira não. A capoeira para aqueles angoleiros velhos tinha a magia dela. (...) A magia da capoeira é aquela que dedica a botar uma fava-da-índia no bolso, a usar um bom breve e boas orações. Então, eu só estou avisando, prá ninguém confiar só na capoeira prá lutar". 

"Eu não posso dizer nunca que tenho a capoeira como esporte. Eu tenho como uma luta, defesa pessoal. De muitas coisas eu me defendi com minha luta. Eu me defendi de faca, me defendi de facão, me defendi de cacete, de foice. Até de bala eu me defendi (...) Então, eu não posso nunca ter como esporte, não posso levar como esporte, só posso levar como luta".
There was once this art from Brazil
To be played in the beach
To be played in the hill
A fight, a dance, a game
An art to spread happiness,
A weapon to hurt and kill
For you to crawl as a snake
And hear "For Christ sake!"
Leave the crowd with their thrill
Where you can fly like a bird
Can clap, can sing, can smile
And give other's spines a chill
A dialogue without words
To show malicia and strength
To do mandinga and tricks
To show control and skill
A game where the winner
More than the one who beats
Is the one who gets the most joy
Who make from the opponent his toy
Who makes the butter to spill
Created by slaves down south
Who said with their feet
What they couldn't with their mouth
Who chopped the sugarcanes
Who seeded the black coffee in lanes
Who with their hands moved the mill
Who were taken from their home
But in their minds had the power
To make from their pain, something new
Who, when freed, reached town
Discriminated, black or brown
Didn't accept their way of living
Imposed their point of view
And took from their former lords
Money, blood and much more
Showed them the other face of the coin
The disease for what there's no pill
Cause the world spins
Completes one round per day
All you do comes back to you
If you ordered the food
Then pay the bill !

Nu samba da Conceição

Nu samba da Conceição (Teimosia)

Nu samba da Conceição
Chegô gente prá sambá
Tocadô chegô primêro
Par'a festa perpará

I limpô o chão com sá
I butô água-di-chêro
Par'a festa perpará
Tocadô chegô primêro

Cantadô chegô dispois
Carregano seu gogó
Gargarejô cum limão
Pru cantu saí meió

Afinan'a cantoria
Um-doi-trêi i trêi-um-dois
Carregano seu gogó
Cantadô chegô dispois

Sambadô chegô na hora
Feiz u samba cumeçá
Trouxe sola di pé grossa
Cumeçô sapatiá

sexta-feira, 4 de novembro de 2011


O tambor fala pelas minhas palmas
quando o braço desce, o som sobe
quando a mão dói, a alma salta
o tambor solta seu grito, que é também meu
couro que esteve esticado sobre carne
agora esticado sobre madeira
alma de árvore, esqueleto de aço
a cada tapa, uma resposta
o suor do braço é lágrima no couro
e o rufo do oco é grito do homem
tambor é para se falar com as mãos...