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terça-feira, 7 de agosto de 2012

No passo do urubu malandro

Texto: Carlos Eugênio Líbano soares

João Batista já tinha arriado quando viu cambando o pardo Marcelino, escravo de um tal Mendes Viana. O pardo era carrapeta, mas o João teve medo de ser agaturrado. Não iria cair na ébia, nem desgarrar como um capadócio que via um chanfalho qualquer, muito menos espirrar ou botocar. Nas rodas de capoeiragem da rua da Vala, mesmo pronto, João era leal, conhecido como um que firma.

Mas o pardo começou a florear, lustrar, figurar na sua frente, e ele ficou de guarda alta para não cair na lodaça. Começou a pegada como uma caveira do espelho, e João soube aprumar-se, dando uma carrapeta. A cambachilra atordoou o cativo. João tentou uma calçadeira, mas o cativo era bom de pulo. Ele então ficou caranguejando, ladeando. O pardo deu uma passarinhada, que fez João Batista cair num passo do constrangimento. Ele levantou-se, mas não estava lanhado. João começou a espalhar-se, a esperar. Nisto um estranjaparou para assistir a cena.

O pardo escravo era bom do jocotó, sabia fazer letras, era hábil no laço. João Batista não viu o pardo com um manhoso. Preparou seu passo. Deu uma pantana que o pardo foi cair nolajedo. Este se recuperou com uma rabanada, mas o livre escapou rabejando. O cativo aí tentou matreiramente passar um rabo de Galo. João Batista achou que aquilo era coisa dePiaba. Antes do bote ele deu um magnífico rabo de arraia, que derrubou o escravo com sardinha e tudo. João Gritou: "Se aprume, quero ver melado".

Irado, o pardo partiu para encher como um tira-teima que resolve a turimbamba. Mas levou uma tunga e ficou ali mesmo. O boche, com cara de bife, olhava com gozo a Dança de Velho. Após rabear frente aos tentos do João este acertou uma pantana no Marcelino, que tungado, tentou trastejar junto ao bamba, mas tava pangaio. O mofento estava pronto, e ainda levou uma lamparina. Lanhado, ele saltou fora.
João Batista seguiu seu caminho, como um urubu malandro, enquanto o godeme assistiu tudo, com ar de mahana.

Roda...

O texto acima é uma narrativa imaginária de um combate de capoeiras nos tempos idos do Rio imperial, usando a gíria das antigas maltas. Estas gírias foram recolhidas por Jair Moura em seu livro Mestre Bimba: A crônica da capoeiragem, Salvador, ed. do autor, 1993. Pp. 65-66

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